Translate ( Traduzir )

sábado, 9 de junho de 2012

Márcia Cabrita ► Última Palavra♪

" Tem  pai  que  enche  a  cara  e
fica  desesperado  porque  o
filho  está  fumando  maconha.
Não  sei   qual  é  a  diferença."
  
CHRISTIANE F. E EU 
Eu tinha 12 anos.
Alguém foi expulso da
escola por fumar maconha.
Maconha? Na minha casa essa
palavra nunca tinha sido pronunciada.
Mas o esclarecimento veio logo depois:
minha professora de moral e
cívica nos alertou sobre
um caso de um garoto que
fumou a tal coisa e engoliu um papagaio.
Sim, isso mesmo, fumou maconha e
engoliu um papagaio vivo.
Essa imagem me apavorou.
A vida toda tive medo de me
meter com aquilo e
engolir algum penoso.
Mais tarde, li e reli a
história de Christiane R,
menina alemã que chafurdou nas drogas,
fumou o-baseado que o diabo enrolou,
viciou-se em heroína e aos 13 anos se
prostituía na estação Zoo. em Berlim.
Não satisfeita, assisti ao
filme homônimo e fiquei ainda
mais apavorada e com medo de
acontecer o mesmo comigo,
sem o glamour de Berlim,
Niterói nem tem metrô.
Nunca mais soube de minha
amiga Christiane até o
Google me contar que ela,
ao contrário de sua companheira de
loucura que morreu de
overdose aos 14 anos, está viva,
parou e voltou a se drogar uma
dezena de vezes;
ela, que na adolescência usou água da
privada para dar mais um pico,
milagrosa­mente, mantém seus
lindos olhos azuis.
Minha experiên­cia com
drogas é quase nula,
não gosto da onda e minha grande
aventura foi quando, totalmente desavisada,
tomei um Chocomilk vitaminado com ácido dentro.
Meus amigos resolveram fazer essa
brincadeirinha comigo chefiados pelo
meu namorado na época, que julgava que eu
deveria "abrir minha cabeça".
Logo mudou de opinião depois que
passei 12 horas falando sem parar e
conversando loucuras com
transeuntes desconhecidos.
Definitivamente não tenho talento para
"abrir minha cabeça" meus
porres são patéticos, com
duas taças de vinho falo
uma-dúzia de besteiras,
volto para casa e já estou curada.
Não consigo enxergar a diferen­ça entre
maconha e cerveja, uísque e cocaína.
Tudo isso é um problema imenso para os
dependentes químicos e suas famílias.
Tem gente que toma uma cervejinha e
vai dormir na boa, tem gente que não
consegue parar .
E destrói a vida por
causa de uma bebida considerada leve que
tem propaganda na televisão.
Tem muito pai que enche a cara de
vodca e fica desesperado porque o
filho está fumando maconha.
Não sei qual é a diferença.
Visitei os cafés de Amsterdã,
onde se pode fumar à vontade,
claro que não gostei daquele fumacê,
mas nada diferente dos
bares do Baixo Gávea.
Pergunto-me qual profissão os
traficantes escolhe­riam,
caso acabassem com o tráfico.
Dificilmente se tornariam
exemplos de pais de família,
mas será que não diminuiria a violência,
começando pelas crianças seduzidas pela
grana rápida do aviãozinho?
As comunidades não teriam mais paz?
A droga na mão do Estado não tiraria
parte do poder dos bandidos?
Por acaso as pessoas se drogam menos
 porque é proibido?
Algum doidão tem medo de se
arriscar porque pode ser preso?
Entendo quem seja contra,
é realmente um pouco assustador,
mas não seria inteligente discutir um
pouco mais sobre isso?
Drogas leves, pesadas, álcool,
remédios e tudo que atrapalha a
vida por adicção, por fim, é a mesma coisa.
Problema de saúde pública.
...
           ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪  

 
ELA, ELE E QUEM PAGA O PATO.

Mãe, porque você não gosta mais do meu pai? 
Pai, por que você não gosta mais 
da minha mãe? 
Como eu faço para gostar dos dois?

Ela - Por que ele ainda me liga? Por que não some do planeta? Por que eu não sumo do planeta? Como ele tem coragem de almoçar com a nova família no "meu" restaurante preferido? Não tem respeito? Por que não atende o telefone quando eu preciso? O menino está com 40 graus de febre!!! Que medo, será alguma coisa grave? Eu sei de uma história horrorosa de febre repentina! Vou para o pronto-socorro infantil! De noite sozinha com uma criança no Rio de Janeiro? Por que eu não me casei com um pediatra e fui feliz para sempre? Eu tenho que resolver tudo sozinha! O dentista? A aula de natação? O tênis? A prova? A comida orgânica? A professora disse que ele está com problema de relacionamento com os colegas. A culpa é minha? Não, é dele! A culpa é dele! Vou ao psicólogo? Precisa? Vai passar? Passou? Não acredito, ele almoçou pizza? Foi à praia sem filtro? Será que ele fuma perto do garoto? Será que não dá para devolver as roupas que estão lá? Por que elas nunca voltam? Tem um buraco negro de roupas infantis? Como eu faço? Compro 80 uniformes? Vai viajar de novo? Quem vai dirigir? Mas e se chover? A estrada é tão perigosa... Que aperto no coração... Por que não liga para dizer que chegou? Será que aconteceu alguma coisa? Por que o telefone só dá desligado? Por que, por que, por quê? Próximo fim de semana eu vou sumir e ele não pega no meu filho! Não falo mais com esse cara. Liga pro seu pai.

Ele - Se eu ligar ela reclama, se eu não ligar ela reclama também. Caraça... qual o problema de almoçar aqui? É um lugar público e o menino adora! Um show por causa de uma febre? Criança tem febre toda hora! Tá vendo? Já melhorou! Não poderia ter esperado amanhecer? Desliguei o telefone sem querer! Não tenho tempo! O garoto tá ótimo, menino é assim mesmo, de vez em quando briga com os colegas, faz parte. Eu enchi meu melhor amigo da escola de bolacha, ele quebrou meu braço, fomos expulsos, normal... Depois só não continuamos amigos porque nossas mães é que brigaram. Coisa chata, pizza não mata. Não deu pra almoçar... Por que ela não relaxa um pouco? Eu torrei no sol a vida toda... 
Um dia sem filtro não faz mal. Que saco, nem tem uniforme aqui em casa... Que mulher maluca, eu dirijo há 30 anos, não posso passar um fim de semana com meu filho sem ficar na paranóia de ficar ligando? Ela viaja à vontade e eu não fico enchendo a paciência. Mala, louca, histérica! Essa semana vou viajar e sumir com ele. Mala, louca, histérica. Não falo mais com essa mulher. Liga pra sua mãe.

O menino
Por que meu pai foi embora? A culpa é minha, só pode ser... Mãe, posso dormir com você? Por que sua cama ainda é de casal, se você não é mais casal? Mãe, por que você não gosta mais do meu pai? Pai, por que você não gosta mais da minha mãe? Como eu faço para gostar dos dois? Por que eu tenho que escolher? Não sei quem tem razão.
Esta coluna é baseada em fatos reais. Os mais leves. O castigo que alguns pais separados impõem aos filhos, às vezes crianças pequenas, é cruel. Tomara que alguém leia e faça diferente.
    
♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ ♪♪ 
                               

NO RIO COMO EM MISSISSIPPI
Nunca vi uma menina dizer:
"Quando eu crescer,  quero ser empregada doméstica porque é muito legal."

Quando vou ao cinema, 
ao contrário de muitos colegas,
não reparo se a câmera está assim ou assado,
se a luz é incrível, 
se o figurino e as locações são lindas.
Vou ao cinema para embarcar na história e
choro como se as desgraças acontecessem comigo.
O máximo que me distancio é 
quanto ao trabalho dos atores.
 Fico fascinada com uma 
boa atriz e imediatamente
apaixonada por um bom ator.
"Histórias Cruzadas", 
com a esperta direção de
Tate Taylor e as 
atuações soberbas de Emma Stone,
Jéssica Chastain e Viola Davis
 (que deve tomar o Oscar da pobre da Meryl Streep), 
tem alguns clichês e 
momentos água com açúcar que
me pegaram direitinho, 
fiquei emocionada, envolvida e
torcendo pelas heroínas. 
Caio feito uma pata nas
armadilhas dos americanos. 
E temos que admitir que
eles fazem isso como ninguém.
A história é de uma garota da 
cidade de Jackson,
Mississippi, recém- formada, 
que resolve escrever um
 livro sob o ponto de vista das 
empregadas domésticas negras. 
Para isso conta com a ajuda de 
Aibileen (Viola) e da 
hilária Minny (Octavia Spencer). 
Após 100 anos da abolição da 
escravatura nos Estados Unidos, 
as mulheres negras continuavam com 
praticamente uma única 
opção de trabalho: 
os serviços domésticos das madames. 
Seus filhos criados por elas e 
todas as suas frustrações resolvidas em 
chás entre amigas da sociedade e 
requintes de crueldade no 
trato com os serviçais, entre eles, 
a exigência da construção de um 
banheiro do lado de fora da 
casa para evitar o contágio de doenças.
Só que os Estados Unidos cresceram, 
viraram gente grande e essa é 
uma profissão que quase não existe mais. 
Quem faz ganha por hora e ganha bem.
Nem vivendo na 
maior fantasia infantil eu 
vi uma menina dizer: 
"Quando eu crescer, quero ser empregada
doméstica porque é muito legal." 
E um serviço que ninguém deseja de verdade. 
É a última opção, às vezes motivo de vergonha. 
No mundo maravilhoso das empregadas, 
o chique é ser babá ou diarista. 
Dá mais status.
Vivo na zona sul do Rio e aqui 
parece que o mundo acaba sem elas. 
Não temos como trabalhar, como ir 
ao salão, fazer ginástica nem 
cuidar dos nossos filhos sem elas. 
O estilo de vida é bem semelhante ao 
que aparece no filme. 
Os uniformes também. 
Quase não se enxerga a 
empregada como gente. 
É comum que deixem seus 
próprios filhos com outras 
pessoas para que possamos ir ao 
cinema sossegados. 
As babás dormem com nossos 
filhos como se isso fosse a 
coisa mais normal do mundo. 
Não é. As portas das creches mais 
parecem um hospital, 
tal a quantidade de mulheres 
vestidas de branco. 
Papais e mamães estão muito 
ocupados para
 levar as crianças ao colégio. 
Nós, brancas perfumadas, fazemos ioga, 
achamos lindo o que diz Dalai Lama, 
postamos frases de paz e amor no Facebook, 
mas temos coragem de dar folga para a 
babá de 15 em 15 dias. 
O discurso não 
combina com as atitudes. 
Aquele cara boa-praça ou 
aquela patroa gentil não se tocam que a 
pessoa que mora na casa deles 
também tem vontades, 
sono e saudade dos filhos. 
No fim de semana nada mais 
natural do que deixar a pia cheia de louça, 
afinal, ela chega segunda de manhã e 
vai lavar tudinho.
Em qualquer lugar do Rio de Janeiro, 
pode-se ver a babá carregando a 
criança no colo ou empurrando o 
carrinho e a mãe com a mão 
cheia de sacolas ou sem nada mesmo. 
É estranhíssimo.
Alguma coisa está fora da ordem. 
E não é na ficção.

                                                                                                                   Márcia Cabrita