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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Estamos obcecados com "o melhor"


Não sei quando foi que
começou essa mania,
mas hoje só queremos
saber do "melhor".
Tem que ser o melhor computador,
o melhor carro,
o melhor emprego,
a melhor dieta,
a melhor operadora de celular,
o melhor tênis,
o melhor vinho.
Bom não basta.
O ideal é ter o top de linha,
aquele que deixa os outros pra
trás e que nos distingue,
nos faz sentir importantes,
porque, afinal, estamos com
"o melhor".
Isso até que outro "melhor"
apareça e é uma questão de
dias ou de horas até
isso acontecer.
Novas marcas surgem a
todo instante.
Novas possibilidades também.
E o que era melhor, de repente,
nos parece superado,
modesto, aquém do
que podemos ter.
O que acontece, quando só
queremos o melhor,
é que passamos a viver inquietos,
numa espécie de
insatisfação permanente,
num eterno desassossego.
Não desfrutamos do que
temos ou conquistamos,
porque estamos de olho no
que falta conquistar ou ter.
Cada comercial na TV nos
convence de que merecemos ter
mais do que temos.
Cada artigo que lemos nos
faz imaginar que os outros
(ah, os outros...)
estão vivendo melhor,
comprando melhor,
amando melhor,
ganhando melhores salários.
Aí a gente não relaxa,
porque tem que correr atrás,
de preferência com o
melhor tênis.
Não que a gente deva se
acomodar ou se contentar
sempre com menos.
Mas o menos, às vezes,
é mais do que suficiente.
Se não dirijo a 140,
preciso realmente de um
carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no
meu trabalho, tenho que
subir na empresa e assumir o
cargo de chefia que vai me
matar de estresse porque é
o melhor cargo da empresa?
E aquela TV de não sei
quantas polegadas que
acabou com o espaço do
meu quarto?
O restaurante onde sinto
saudades da comida de
casa e vou porque tem o
"melhor chef"?
Aquele xampu que usei
durante anos tem que
ser aposentado porque
agora existe um melhor e
dez vezes mais caro?
O cabeleireiro do meu bairro tem
mesmo que ser trocado pelo
"melhor cabeleireiro"?
Tenho pensado no quanto
essa busca permanente do
melhor tem nos deixados
ansiosos e nos impedido de
desfrutar o "bom"
que já temos.
A casa que é pequena,
mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem,
mas nos enche de alegria.
A TV que está velha,
mas nunca deu defeito.
O homem que tem defeitos
(como nós),
mas nos faz mais felizes do
que os homens
"perfeitos".
As férias que não vão ser
na Europa,
porque o dinheiro não deu,
mas vai me dar à chance de
estar perto de quem amo...
O rosto que já não é jovem,
mas carrega as marcas das
histórias que me constituem.
O corpo que já não é mais jovem,
mas está vivo e sente prazer.
Será que a gente precisa
mesmo de mais do que isso?
Ou será que isso já é o melhor e
na busca do "melhor"
a gente nem percebeu?
"Sofremos demais pelo
pouco que nos falta e
alegramo-nos pouco pelo
muito que temos."
Leila Ferreira