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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Frio que Veio de Dentro ♥

Seis homens ficaram bloqueados numa caverna por 
uma avalanche de neve.
Teriam de esperar até o amanhecer para poder receber socorro.
Cada um trazia um  pouco de lenha e havia uma pequena fogueira,
ao redor da qual se aqueciam.

Se o fogo apagasse, todos morreriam de 
frio antes que o dia clareasse.
Chegou a hora de  cada um colocar sua lenha na fogueira.
Era a  única maneira de sobreviver.

O primeiro homem era racista.
Olhou demoradamente para os outros cinco e
descobriu que um deles tinha a pele escura.
Então pensou:

— Jamais darei minha lenha para aquecer um negro.

E guardou-a, protegendo-a dos olhares dos demais.

O segundo homem era rico e avarento.
Estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida.
Olhou ao redor e viu em torno do fogo um homem da montanha,
que trazia sua pobreza no aspecto  rude do semblante e nas 
roupas velhas e remendadas.
Fez as contas do valor da sua lenha e 
enquanto sonhava com seu lucro, pensou:

— Dar minha lenha para aquecer um preguiçoso?

O terceiro homem era negro. 
Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento.
Não havia nele qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensina. Seu pensamento era muito prático:

— É bem provável que precise desta lenha para me defender. Além disso, jamais daria minha lenha para salvar 
aqueles que me oprimem.

E guardou sua lenha com cuidado.

O quarto homem era o pobre da montanha.
Conhecia mais que os outros os caminhos, 
os perigos e os segredos da neve.
Pensou:

— Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha  lenha.

O quinto homem parecia alheio a tudo. 
Era um sonhador e  olhava fixamente para as brasas.
Nem lhe passou pela cabeça oferecer pelo menos parte da 
lenha que carregava.
Estava preocupado demais com suas próprias visões para 
pensar em ser útil.

O último homem trazia nos vincos da testa e nas 
palmas calosas das mãos os sinais de uma vida de trabalho.
Seu raciocínio era curto e rápido:

— Esta lenha é minha. Custou meu trabalho. Não a darei a ninguém, nem mesmo o menor dos gravetos.

Com esses pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis.
A última brasa da fogueira se cobriu de 
cinzas e finalmente apagou.

Ao alvorecer do dia, quando os homens do 
socorro chegaram à caverna,
encontraram seis cadáveres congelados, 
cada qual segurando um feixe de lenha.

Olhando para aquele triste quadro, 
o chefe da equipe de socorro observou:

O frio que os matou não foi o frio de fora, 
mas o frio de dentro.