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sábado, 20 de agosto de 2011

O Ferreiro↕

Era uma vez um ferreiro que,
após uma juventude cheia de excessos,
resolveu entregar sua alma a Deus.

Durante muitos anos 
trabalhou com afinidade,
praticou a caridade, mas, 
apesar de toda sua dedicação,
nada parecia dar certo na sua vida.
Muito pelo contrário:
Seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.

Uma bela tarde, um amigo que o visitara,
e que se compadecia de sua situação difícil,
comentou:

- "É realmente estranho que,
justamente depois que você resolveu se
tornar um homem temente a Deus,
sua vida começou a piorar.
Eu não desejo enfraquecer sua fé,
mas apesar de toda a sua crença no mundo espiritual,
nada tem melhorado."

O ferreiro não respondeu imediatamente.
Ele já havia pensado nisso muitas vezes,
sem entender o que acontecia em sua vida.
Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta,
começou a falar e terminou encontrando a explicação que procurava.

Eis o que disse o ferreiro:

- "Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e
preciso transformá-lo em espadas.
Você sabe como isto é feito?
Primeiro eu aqueço a chapa de aço num calor infernal,
até que fique vermelha.
Em seguida, sem qualquer piedade,
eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a
peça adquira a forma desejada.
Logo, ela é mergulhada num balde de água fria e a
oficina inteira se enche com o barulho do vapor,
enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura.
Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita:
uma vez apenas não é suficiente."

O ferreiro deu uma longa pausa e continuou:

"Às vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento.
O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de
rachaduras.
E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada.
Então, eu simplesmente o coloco no
monte de ferro-velho que você viu na
entrada de minha ferraria."

Mais uma pausa e o ferreiro concluiu:

"Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições.
Tenho aceito as marteladas que a vida me dá,
e às vezes sinto-me tão frio e insensível
como a água que faz sofrer o aço.
Mas a única coisa que peço é: "
Meu Deus, não desista,
até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim.
Tente da maneira que achar melhor,
pelo tempo que quiser,
mas jamais me coloque no monte de ferro-velho das almas."